Dialogando com meus trabalhos maiores da série “retratos, recortes e memórias…” os pequenos quadros grandes se tornaram uma potente variação dessa série.
Resolvi pintar em pequenos suportes (placas e telas) super closes de retratos com recortes e ângulos inusitados, aproximando a imagem o máximo possível até o ponto que permitisse a identificação das personas. O resultado do primeiro retrato me surpreendeu muito! Realmente sugere o “recorte” de uma grande pintura enquadrado num pequeno quadro!
No entanto, as obras acontecem. Com a base cromática de cada tela, pintei as “molduras” pra acentuar a unicidade da obra. E a pintura resgata do recorte o seu inteiro! Transforma e ressignifica a imagem somando qualidades intrínsecas da sua linguagem pictórica, como também, a possibilidade de novas narrativas e variações.
Em muitos quadros, por exemplo, procurei referências contemporâneas que me inspirassem nos arquétipos dos filhos e filhas dos Orixás. No candomblé cada divindade possui lendas que justificam seu destino e principalmente o arquétipo de comportamento a ela associado. É uma das poucas religiões que conduz seus devotos a um processo de autoconhecimento através de estudos, rituais e vivências verdadeiramente terapêuticas e únicas.
Título: “Filha de Oxalá”
Oxalá é o deus da criação. Representa o céu, o princípio de tudo. Com Yemanjá, a deusa do mar, criam a terra, os orixás, seus domínios com seus elementos e a humanidade. Com Nanã, a deusa das águas e do barro, teve outra filha e filhos orixás. Na sua forma jovem é Oxaguiã, ousado, brincalhão e sensual. Mais velho é Oxalufã, respeitoso e paternal. É o mais venerado e querido de todos na hierarquia do candomblé, tanto na África como aqui no Brasil. Rege os processos da fecundação.
Suas filhas e seus filhos são pessoas calmas e dignas de confiança. São sóbrias, gentis, persistentes e organizadas. Independente da constituição física, quem é de Oxalá apresenta um porte majestoso. Amáveis, sem serem subservientes, em alguns casos podem se tornar autoritárias. Vibram na frequência das cores branca e cinza-prata. Seu axé atrai abundância, proteção e potencializa a criatividade.